quarta-feira, 27 de junho de 2012

Lembro quando era criança e dormia com meus pais. Passava noites ouvindo um velho rádio relógio marrom. O locutor traduzia músicas simultaneamente após a meia noite. Eu adorava aquilo. As músicas rolavam e eu acompanhava fascinado os minutos virarem. Ainda sinto a mesma sensação quando penso na primeira vez que fiquei acordado até amanhecer. Lembro de voltar a pé do centro da cidade com meu pai durante uma tempestade. Lembro de algumas que passamos juntos. Lembro também de segurar as mãos dos meus pais pra andar na rua. Lembro do dia em que entrei no quarto e vi minha irmã pela primeira vez e o que senti. Um dever de proteção que talvez eu não tenha cumprido. Lembro de ser muito pequeno e ter medo do meu avô que chegava como um gigante e me esconder embaixo de uma máquina de costura. Lembro de fazer pães com minha avó. Das milhares de balas no bar do meu avô Mingo. O fato, é que nunca sabemos quando é a última vez. E é sempre tão difícil deixar as coisas partirem, mas também existe essa beleza inexplicável nesse estranho caminho, onde somos incapazes de manter tudo o que amamos próximo, imutável.



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